A ficção fantástica tornou-se mais complexa com o tempo. No começo, tudo era simples — o herói enfrentava um monstro e havia algum tipo de magia na história, seja na forma de deuses, poderes ou do próprio monstro.
A fantasia evoluiu não só na complexidade da trama, mas também no gênero. Hoje, temos milhares de histórias híbridas, que misturam vários gêneros com o fantástico, alguns até difíceis de separar, como o steampunk.
Terry Pratchett mistura fantasia com comédia, sátira e thriller (pelo menos em alguns livros da Guarda da Cidade) em Discworld. Stephen King, fantasia, terror, faroeste e ficção científica em Torre Negra. Susanna Clarke escreveu uma fantasia histórica em Jonathan Strange e Mr. Norrell.
O que a ficção fantástica possui para facilitar e até estimular esses cruzamentos?
Acredito que, por ser metafórica, podemos revelar temas poderosos através dela. A fantasia permite criatividade e flexibilidade ainda maiores porque os temas podem ser abordados por novos ângulos e com certo distanciamento.
Sociedade, comportamento, filosofia — tudo pode ser destrinchado pelas lentes fantásticas e nos ajudar a aprender coisas novas por meios mais atraentes.
Podemos ver uma nova e divertida crítica sobre a religião organizada em Pequenos Deuses, do Pratchett.
Podemos ver o medo e a superação sob uma nova ótica com Alameda dos Pesadelos, da Karen Alvares.
A luta e o sacrifício por um ideal em A Batalha do Apocalipse, do Eduardo Spohr.
E por aí vai.
Magia
Enquanto qualquer gênero pode oferecer metáforas e distanciamento, a fantasia tem um ingrediente que torna o processo mais eficaz: a magia.
A magia, na ficção fantástica, serve como uma chave mestra para abrir as portas do impossível. Ela permite que a história examine qualquer assunto abordado de uma maneira única, especial.
Essa pode ser a grande responsável pela flexibilidade do gênero. Essa pós-modernidade da fantasia não se limita a críticas sociais; a própria fantasia é desconstruída, referenciada e satirizada.
O fantástico nos leva aonde outros gêneros não podem: ao impossível e ao infinito, mas também, simultaneamente, ao nosso próprio mundo.
A ficção científica é o improvável tornado possível. A fantasia é o impossível tornado provável.
—Rod Serling