Tiago Teixeira: 5 Coisas que aprendi escrevendo Fuligem: Terrores Paulistas

O post de hoje é do autor e roteirista Tiago Teixeira. Ele compartilhou o que aprendeu escrevendo seu primeiro livro, Fuligem: Terrores Paulistas, onde a cidade de São Paulo é a personagem principal e pano de fundo dos contos. Obrigado pela participação, Tiago!

 

Porque não existem portas no último andar do edifício mais esquecido do Centro? Como demolir uma casa construída antes da própria cidade? Quem ou o que está roubando bebês na cracolândia?

Essas e outras respostas estão no livro de estréia do roteirista Tiago Teixeira (“O Hipnotizador”, nova série da HBO). São seis histórias de terror passadas na maior e mais assustadora capital brasileira.

 

1) A pesquisa é sua amiga

É impossível criar alguma coisa se você não consome outra coisa, porque a criação é um processo digestivo. Chafurde no seu assunto, aprenda o máximo que puder, destile e use o que preferir. Isso vai te ajudar a…

2) Amar seus personagens

Já que nasci no Rio, a primeira reação ao assunto do livro é me imaginar um carioca que pensou em mais uma forma de sacanear São Paulo, enquanto jogava futevôlei usando um coco no lugar da bola, cantarolando Gabriel, o pensador. Pra início de conversa, eu odeio futevôlei. E coco. O Gabriel eu não conheço pessoalmente, mas o prognóstico não é dos melhores.

A ideia do livro nunca foi fazer piada com São Paulo, mas explorar um gênero com questões que vivi ou presenciei na cidade. Essas histórias nascem de personagens, e se você quer criar personagens, melhor gostar deles. Mesmo dos que não merecem. Os leitores percebem e é difícil se importar com quem você odeia.

Então examine ele bem de perto, ache aquela característica com a qual você se identifica e aprenda a gostar desse sujeito. E como encontrar esse sujeito? O melhor modo é…

3) Escrever o que você vê

Nada de errado em escrever sobre a vida interior do seu personagem, mas o melhor caminho para entender seu personagem é observar seu exterior. Como essa pessoa reage quando nervosa? Feliz? Curiosa? Olhe para as pessoas no metrô, no ônibus, nas calçadas. Mas evite contato visual se deseja manter sua dentição intacta.

Quando observar as pessoas começar a ficar meio bizarro, observe o ambiente onde esses personagens vivem. Sua memória visual é ruim? Tire fotos. Está escrevendo sobre um lugar que não conhece? Use as fotos da internet. Agora, o que fazer com tudo isso que você coletou?

4) Anote tudo

Uma vez que você está tentando enxergar melhor as coisas (veja item anterior), a melhor coisa a fazer é anotar tudo de interessante que passa pela sua cabeça. Junte uma pilha de anotações e, se possível, perca-as. Desse modo você vai encontrá-la alguns meses depois e se perguntar o que diabos estava passando pela sua cabeça. Talvez novas peças se encaixem. Talvez você jogue outras fora. Mas novas ideias podem aparecer, e essas ideias não precisam nem mesmo ser histórias inteiras, porque…

5) Menos trama, mais atmosfera

Se você vai escrever contos, não tente escrever mini livros. Um conto não precisa ter conflitos, arcos de personagem, atos. Um conto pode ser só uma ideia, um momento na vida de alguém, um trecho de uma história maior que nunca vamos ver. Tudo que consumimos está tão repleto de trama que esquecemos do que fica nas beiradas.


Tiago Teixeira: Site | Twitter

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