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Como eu preencho meus cadernos de ideias

Uma das coisas mais legais da vida de escrita é comprar cadernos e bloquinhos de anotações e enchê-los com ideias para plots, personagens, citações, sementes de histórias, projetos e por aí vai.

Talvez você tenha uma gaveta cheia deles e não saiba como preenchê-los. Ou coloca algumas coisas aqui e ali, mas está procurando sugestões novas. Ou talvez você só tenha curiosidade de conhecer o processo de outras pessoas.

Não existe maneira certa de usar esses bloquinhos, e grande parte da diversão é a bagunça criativa que eles permitem. Mas se estiver caçando formas novas de trabalhar/brincar com eles, por qualquer motivo, este é o meu processo:

Simplifique

Isso começa na hora de escolher o caderno. Confia em mim, quanto mais simples o bloquinho for, mas fácil será de escrever qualquer coisa nele. Por outro lado, se você escolher um chique, caro, pomposo, cheio de enfeites e detalhes, com páginas especiais feitas de crina de dromedário, mais difícil vai ser esquecer o perfeccionismo e despejar conteúdo nas folhas.

Cadernos especiais podem passar a sensação de que o conteúdo anotado também deve ser especial — você vai sempre pensar duas vezes antes de escrever qualquer coisa nele com medo de corromper sua beleza e perfeição. Escolha cadernos simples.

A simplicidade também tem a ver com as anotações. Não coloco datas, desenhos complicados, molduras, nem nada disso nos meus cadernos. Admiro muito quem tem talento e paciência para fazer aquelas ilustrações super complexas em planners e agendas, sabe? Com setinhas, flechas, datas customizadas, banners e tudo mais? Muito bonito, mas acho desnecessário. Não faço nada disso, e de começo sugiro que não faça também pelo mesmo motivo anterior: evitar perfeccionismo.

Mantenha as anotações o mais simples que puder. Escreva uma ideia, pule uma ou duas linhas, e escreva a próxima. Sem firulas.

Eureka

A primeira dica prática é para escrever qualquer coisa que vier à sua cabeça. Os cadernos não são para ideias geniais e conceitos milionários, são para guardar toda e qualquer semente criativa.

Ideias soltas provavelmente formarão a maior parte dos seus cadernos. Abrace-as.

As ideias raramente aparecem concretas e detalhadas. Muitas dessas notas serão vagas, para não dizer devaneios. Não importa.

Por mais ruim, estranha ou incerta que a ideia pareça, anote-a. É importante não existir julgamento nessa parte do processo criativo bruto. As ideias não são boas nem ruins, apenas estão ali, disponíveis. Depois de um tempo, um novo olhar pode fazer a mesma ideia ter um sentido diferente. Confie no seu subconsciente.

Muitas vezes minhas anotações são pedaços de diálogos soltos ou títulos, como por exemplo “Aqueles que morrem” (é um dos títulos aleatórios anotados no meu caderno, provavelmente será uma história sobre um grupo de imortais, mas ainda não está bem definida).

O caderno é basicamente sua máquina do tempo pessoal. Anote, esqueça. Revise, mude, resgate.

10 ideias

Essa é técnica que mais uso e a de que mais gosto.

Sempre que você ler um livro, jogar um jogo, assistir um filme, uma série ou consumir qualquer entretenimento que seja, escreva 10 ideias sobre a obra. Pontos que te inspiraram, que você gostou, achou interessante, diferente, etc.

Os 10 itens podem ser:

  • Detalhes sobre personagens, como características, personalidades, arcos de história
  • Diálogos memoráveis
  • Descrições
  • Pontos da história, plots, twists, subtramas, revelações
  • Frases que você gostou de ler/ouvir
  • Sistemas de magia ou conceitos marcantes
  • Anotações sobre world building

E por aí vai. Fazer listas e dar uma boa olhada em como outros escritores lidaram com determinado problema sempre lhe dará ideias criativas sobre como você pode resolver o mesmo problema em sua própria história. Além de ser um modo mais ativo de consumir conteúdo — você não absorve a obra passivamente, mas se força a pensar nela e cria

Na foto abaixo está um exemplo de algumas ideias anotadas da série The Witcher. Acima delas, estão algumas ideias soltas aleatórias (costumo desenhar uma lâmpadazinha antes delas, mas às vezes esqueço e faço só um asterisco. Outro motivo pra não se prender a detalhes além das notas).

“Fetos canibais que comem uns aos outros no útero”. Eu não faço ideia de onde ou se algum dia vou encaixar isso em algum lugar.

(Observação: gosto de variar a letra e ficar tentando “fontes” novas, mas o meu normal é letra de forma.)

A técnica de 10 ideias constitui a maior parte dos meus cadernos e é uma fonte de inspiração sem fim para a minha escrita. Se por qualquer motivo você acha que estará plagiando alguém ao fazer isso, você provavelmente é uma das pessoas que tem medo de contar suas ideias por aí porque acha que todo mundo vai querer roubar sua genialidade. (spoiler: sua ideia só é genial pra você). Não é sobre copiar, é sobre se deixar influenciar pelo que você admira.

Sugiro a leitura de Roube como um artista para você começar a perceber como funciona o processo criativo, a inspiração e a criação/manipulação de ideias.

Nunca há razão para escrever menos de 10 ideias. Se estiver com dificuldade, é porque está sendo exigente demais. Anote com displicência.

Outline reverso

Outra maneira maravilhosa de se inspirar com obras lidas/assistidas/jogadas é criando um outline reverso.

Um outline reverso é simples: você cria um “planejamento” de toda a história com as suas palavras depois de terminar de ler/assistir/jogar. Faça da forma que achar melhor. Pode ser em bullet points, capítulo por capítulo, em um longo parágrafo dissertativo, em primeira pessoa, conversando e deixando notas para você mesmo, etc.

Inclua detalhes que fazem sentido para você, como pontos de virada, arcos de personagens, comentários pessoais sobre a trama, qualquer coisa marcante. Essa também é uma forma de ver como outros escritores lidaram com problemas/pontos específicos do enredo.

Se você estiver com dificuldade para, digamos, decidir a melhor forma de começar sua história, analisando como seus escritores favoritos fizeram e como as suas histórias preferidas começam é um ótimo ponto de partida para buscar uma solução. O outline reverso é uma ferramenta fantástica.


E é isso. Mantenha a simplicidade, anote qualquer ideia, sem perfeccionismo ou julgamentos, force sua cabeça a pensar em 10 coisas que gostou das histórias que consumiu e crie outlines reversos.

Não precisa ser complicado.

Lembrando que esse é apenas o jeito como eu faço. São sugestões, não regras. Se gostar de alguma dica, por favor, fiquei à vontade para roubá-la e adaptá-la para você. Caso contrário, pode ignorar meus conselhos não solicitados.

Se tiver mais alguma ideia do que incluir nos caderninhos, deixa aí nos comentários para eu aumentar meu cinto de utilidades.

Este post tem 8 comentários

  1. Ótimo artigo!
    Eu utilizo dois cadernos. Uma caderneta, onde faço os primeiros rabiscos das ideias que vão surgindo ao longo do dia e um caderno maior, onde eu seleciono o que mais me agradar da caderneta e construo melhor aquela ideia.
    O perfeccionismo realmente atrapalha, eu por exemplo, só utilizo cadernos sem pauta e caneta, é uma bobeira que só atrapalha, mas me deixa mais à vontade para escrever.
    Abraços!

    1. Thiago d'Evecque

      Se um tipo específico de caderno te ajuda a escrever, continue fazendo o que funciona. O importante é conhecer o próprio processo. Abraço, Victor!

  2. Elton Moraes (@oEltonMoraes)

    Menino, adorei o artigo e super me deu umas ideias!
    Eu tinha uns, sei lá, três cadernos, um bloquinho e um sketchbook. Atualmente mal toco neles, mas é onde ficam as ideias bases ou lacunas a serem preenchidas ao longo de continuações para meus livros.
    Recentemente também comprei um caderninho novo, o qual será reservado apenas para uma única trilogia. Pra não ter chance de eu me perder nos vários cadernos haha
    Abraço!

    1. Thiago d'Evecque

      Também já fiz isso de usar um caderninho só para um livro específico (com Limbo). É uma ótima ideia também, principalmente pela facilidade de organização.

      Abraço, Elton!

  3. Tetz

    Maravilhoso. Os artigos desse site sempre me impulsionam quando estou cheia de duvidas para escrever.

  4. Marina

    Adorei as ideias de como anotar ideias. Confesso que sempre fui do tipo exigente com insights, mas você está coberto de razão. Vou adotar.

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