Muitas comparações são feitas entre J.R.R. Tolkien, criador da Terra-Média, e George R.R. Martin, criador de Westeros. Algumas delas sem sentido nenhum, com fatos completamente fora de contexto.
Devido ao gênero literário e ao sucesso dos dois, as comparações são inevitáveis. O próprio Martin já disse várias vezes que o autor britânico foi grande inspiração para seus trabalhos.
Apesar das semelhanças, há uma diferença fundamental entre eles.
Pra mim, Tolkien é ordem, e Martin é caos.
Há diferenças que exigiriam uma explicação mais detalhada, como, por exemplo, o fato de Tolkien ter sido um grande linguista e ter usado a semântica e a sociolinguística para criar uma complexa mitologia. Não entrarei nesse tipo de detalhe.
O essencial é observar que esses dois excelentes autores escreveram sobre coisas distintas, apesar delas parecerem iguais.
A ordem de Tolkien
Tolkien era um católico fervoroso. O Senhor dos Anéis possui uma clara influência de suas crenças, com o certo e o errado bem definidos na história. Tolkien escreveu sobre grandes ideias e princípios — seus personagens são abstrações. A meu ver, ele contou uma história sobre conceitos, em vez de pessoas. O preto e o branco têm seu lugar determinado, e não há como misturá-los.
A história possui um grande senso de ordem e dever, e satisfaz nossa necessidade de otimismo, onde o bem triunfa sobre o mal.
O caos de Martin
Apesar de As Crônicas de Gelo e Fogo ainda não ter acabado, Martin parece escrever principalmente sobre poder — como as pessoas o buscam, como o poder as corrompe e como todos são afetados pelas consequências.
A visão de Martin é mais pessoal e pessimista. Ele pegou os contos de fada e os virou do avesso (Sansa, por exemplo, é a donzela que esperava pelo príncipe encantado). Nenhuma boa ação é pura — todas têm sua dose de brutalidade ou dureza.
Enquanto Tolkien nos mostrou a bondade inata, Martin nos conta sobre o caos da humanidade. Não há ordem, não há justiça. Cada personagem tem seus objetivos, e não há alinhamentos definidos. Em vez do preto e branco, temos tons de cinza.
Não escolha um
Temos sorte de poder ler trabalhos de autores tão distintos quanto talentosos. É besteira ter que escolher entre um e outro, ou classificá-los como melhor ou pior.
Eles são fundamentalmente diferentes — o foco, os temas, o mundo, os personagens, a história. Não é maravilhoso termos acesso a conteúdos tão únicos? Não precisamos de um novo Tolkien, porque nunca teremos outro, assim como outro Martin.
Que bom que temos os dois.