Você está visualizando atualmente Estrutura narrativa orgânica

Estrutura narrativa orgânica

Essa é uma alternativa à estrutura simplificada. Também é uma estrutura básica, mas não contém os pontos-chave da trama como a estrutura anterior. Nessa podemos montar nossa história mais livremente.

Acredito que a estrutura narrativa orgânica seja mais maleável e mais fácil de se integrar em narrativas. Modifique e acrescente detalhes à sua maneira. Transforme-a em sua.

O post é uma adaptação do vídeo How to Plan a Novel, do escritor M. Kirin, além de ter conteúdo baseado em alguns livros de escrita, como Writing Into the Dark, Story Trumps Structure e Story Genius.

O planejamento orgânico vai desde a concepção da história, o nascimento das ideias principais, até a própria estrutura narrativa. O mais importante é que, antes mesmo de se preocupar com enredo e reviravoltas da trama, você já vai ter uma lista enorme de coisas que te empolgam ao escrever, como personagens, temas, locais e eventos. Vai ser difícil não começar a escrever logo.

Apenas uma observação antes de começarmos — você não precisa concluir todo o processo de uma vez só. A construção orgânica requer um pouquinho de dedicação ao longo do processo. Se preferir, faça um passo, descanse e retorne quando estiver mais disposto. Sem pressão.

Recomendo separar um caderno exclusivamente para essa estrutura.

Parte 1 — Brainstorming

Essa é a parte mais difícil caso ainda não tenha pensado em toda a história. O primeiro passo é pensar nos elementos principais da trama.

Garanta alguns minutos sozinho, sem interrupções. Bloqueie tudo que possa te distrair. Pegue papel e lápis ou prepare-se para digitar, se preferir.

Vamos começar.

  • Quais elementos da história mais te empolgam?

Anote tudo que vier à cabeça. Personagens, tramas, reviravoltas, temas, conceitos, magia, gêneros, animais, monstros, tudo!

Talvez o que você mais goste atualmente seja distopia. Ou, quem sabe, lutadores de artes marciais. Ou robôs gigantes. Ou mulheres ninjas que controlam elementos da natureza. Ou deuses que batalham entre si. Ou guerras históricas. Ou o tema de traição e poder lhe interessa.

Ninguém nunca vai ler essa lista. Escreva sem filtrar nenhuma ideia, apenas passe para o papel sem se questionar, sem duvidar de nada.

Esse é o primeiro passo porque devemos começar nossa história com o pé direito, escrevendo sobre o que realmente gostamos. Não há necessidade (nem lógica) de passar semanas, meses e até anos dedicado a um trabalho que não damos a mínima, que não nos diverte, que não nos empolga.

Não desista até ter pensado em vários elementos, mesmo que demore.

  • Escolha seus elementos favoritos

Agora que anotou todas as ideias, escolha as suas preferidas. Quais elementos pulam da página pra você?

Acho que dois ou três são o suficiente para não ficar muito confuso, mas é apenas a minha opinião. Escolha quantos quiser.

Esses elementos favoritos serão o seu guia ao escrever a história. Talvez eles sejam o assunto principal do seu livro, talvez sejam panos de fundo, não importa — eles devem estar com você quando for escrever. Lembra dos Manifestos? Coloque esses elementos favoritos junto com eles no seu livro atual.

Essas serão as raízes da sua história. As ideias fundamentais em que o seu livro é baseado, as ideias que você vai sempre procurar trazer para as páginas.

  • O que posso criar com esses elementos?

Essa é a parte divertida. Pense em como conectar as ideias que anotou para criar uma história. Basta um ponto em comum entre elas, um pequeno traço que possa uni-las.

Que história você poderia contar com esses elementos?

Lembre-se de que você pode criar histórias, contos e livros sobre literalmente qualquer ideia. Não há fiscais de histórias nem uma Gestapo de ideias — a sua imaginação é o único limite. Não deixe ninguém tirar a diversão das suas criações. Escreva sobre o que quiser.

O que você quer escrever é o que milhares de pessoas querem ler. Escrever é divertido, emocionante, prazeroso. Não deixe te convencerem do contrário.

Vamos começar a focar em elementos específicos da trama.

  • Personagens

Pense em quais personagens você precisa para contar a sua história. Não se preocupe se suas primeiras descrições forem vagas e abrangentes. “A mulher guerreira” ou “o mago idoso” são bons pontos de partida. Caso já tenha ideias mais concretas formadas e queria ser mais específico, vá em frente.

Anote apenas os personagens essenciais para a trama. Deixe de lado, por enquanto, as dezenas de pessoas secundárias. O importante nesse momento é pensar naqueles sem os quais é impossível contar a história.

  • Locais

De quais lugares você precisa para contar a história? Anote tudo e, novamente, não se incomode em especificar demais. Conceitos mais abstratos estão ótimos. “A escola de magia”, “a casa da mulher guerreira” ou “a arena de lutas” servem perfeitamente.

  • Eventos

Quais acontecimentos precisam ocorrer na história? Anote todas as ideias que tiver, vagas ou específicas. “A mulher treina em uma escola ninja”, “a mulher se forma e aprende uma técnica secreta”, “matam o mestre da mulher”, “a mulher desafia outra escola ninja”. Essas são pequenas ideias que durante a escrita podem gerar arcos e desenvolvimentos maiores.

Agora pare e revise quantos elementos você já criou para a sua história. Muito legal, né? Personagens, locais, eventos e diversas outras ideias anotadas, prontas para ser incluídas ou desenvolvidas. Ideias incríveis que você inventou e só você pode escrever!

Parte 2 — Expansão

Agora que você definiu alguns personagens, locais e eventos, chegou a hora de expandi-los. Essas ideias vão deixar de ser apenas conceitos e vão ganhar formas mais definidas. Vamos revisar os elementos anteriores e examinar um por um.

  • Fatos sobre o personagem

Pegue um dos personagens criados anteriormente e escreva todos os fatos que você sabe sobre ele. Escreva em forma de texto, lista, diário, carta, da forma como achar melhor. Se ainda não sabe nenhum detalhe, é hora de inventar. Comece a lapidar o personagem. Qualquer detalhe serve!

Vamos pegar a “mulher guerreira” como exemplo e escrever alguns detalhes em lista:

  • não tem onde morar
  • trabalha de guarda-costas para quem precisa como forma de ganhar dinheiro e passar a noite debaixo de um teto
  • bebe muito e arruma briga quando a menosprezam por ser mulher
  • aprendeu a lutar com qualquer tipo de arma, desde arcos até nunchakus
  • seu irmão foi assassinado
  • não resiste a animais de rua; sempre divide a pouca comida que arruma com eles
  • deseja vingança e reconhecimento por suas habilidades

E por aí vai. São detalhes que vão moldar a personagem e provavelmente mudarão alguns elementos da fase de brainstorming (“seu irmão foi assassinado”, por exemplo, é um detalhe do personagem e também um evento, e o “não tem onde morar” anula o local “casa da guerreira”). Não tem problema, essa é a intenção. Precisamos peneirar as ideias e dar vida à história. A “mulher guerreira” está, aos poucos, deixando de ser um esboço, uma silhueta, e ganhando traços vívidos e coloridos.

Procure pensar em todos os tipos de detalhes: sobre o passado do personagem, detalhes físicos e emocionais, relacionamentos, etc. Lembre-se também de pensar em alguns desejos dos personagens: o que eles mais querem, seja a curto ou longo prazo, seus sonhos, seus objetivos, suas motivações.

Faça isso com todos os personagens que inventou na Parte 1.

  • Tapando buracos

Depois de pensar nos fatos, você pode ver que há vários buracos entre eles. No meu exemplo, o irmão da mulher guerreira foi assassinado. Por quem e por que? Ela não tem onde morar. O que houve? Desde quando ela está assim? Quantos anos ela tem? Por que ela bebe tanto? O que houve com os pais dela? Como aprendeu a lutar com qualquer tipo de arma? Qual o nome dela?

Essa é a parte em que tapamos os buracos. Se parecer uma tarefa muito intimidadora, relaxe — preencha os furos aos poucos. Pense apenas nos fatos essenciais para contar a história, ou apenas os que te deixam mais curioso, ou os que você quiser por qualquer motivo.

Esses detalhes desconhecidos lapidarão ainda mais os personagens, criando novas pessoas, locais e eventos para a história. Anote tudo nas seções apropriadas do seu caderno (ou arquivo de texto).

Agora repita esses dois últimos passos para locais e eventos. Liste todos os fatos conhecidos e, depois, comece a tapar os buracos com novos detalhes.

Até o momento você já criou bastante elementos para a história, muitos dos quais são definitivos. Muitos, entretanto, provavelmente vão mudar quando você começar a escrever. Aceite as mudanças. Os personagens vão acabar tomando outras decisões, a história pode acabar seguindo outro rumo. Detalhes que você não pensou na fase do planejamento podem surgir durante a escrita. Adapte e continue.

Parte 3 – Linha do tempo

Agora vamos delinear a história. Se quiser, use a estrutura narrativa simplificada. Caso queira algo mais básico, apenas liste todos os eventos que pensou nas partes anteriores e coloque-os em ordem cronológica. Simples assim.

Não se preocupe com Atos, Viradas e Clímaxes. Apenas liste os eventos da sua história na ordem em que vai escrevê-los no livro, criando uma linha do tempo.

Se preferir, escreva os eventos na ordem que realmente aconteceram, e não na ordem em que vai escrevê-los. Por exemplo, a morte do irmão da protagonista aconteceu em algum momento antes da história começar, mas só será explicada na metade do livro.

Faça como achar melhor.

Esse é um método voltado para quem não gosta de estruturas. A linha do tempo é apenas um guia para nos orientar durante a escrita.

Escreva!

Chegamos ao fim da estrutura orgânica. Você já tem tudo que precisa para começar a escrever. Pegue o primeiro evento da linha do tempo e escreva! Claro, se quiser começar pelo último ou pelo meio, não importa. Comece!

Durante a escrita, você vai descobrir novos eventos e informações sobre os personagens. Adicione o que for pensando à linha do tempo — isso inclui subtramas, relacionamentos, passado dos personagens, etc. São elementos que vão encorpar ainda mais sua história, porque os eventos que escreveu talvez não preencham um livro inteiro. E se sua intenção for escrever um conto ou um livro mais curto, fique à vontade.

E não custa lembrar: esse é o seu livro. Só você pode contar essa história. Lembre-se de todos os elementos que mais gostou de criar e siga em frente. Pense nas milhares de outras pessoas que querem ler uma história como essa.

Não deixe de assistir também ao vídeo com a ideia original, do M. Kirin. Ele explica todo o processo muito melhor do que eu.

Boa escrita!

Deixe um comentário