A primeira versão sempre é horrível

Não importa quem você é — Stephen King, Neil Gaiman ou Clarice Lispector. A primeira versão de qualquer texto sempre será uma grande porcaria, seja uma redação, um conto, um comentário, uma matéria, um livro. Como Hemingway disse, “o primeiro rascunho de qualquer coisa é uma merda”.

Por que a sua professora de redação sempre insistia em fazê-lo escrever um rascunho e depois passar a limpo? Porque ela já conhece a característica universal de todos os primeiros textos — eles são horríveis.

E isso é ótimo.

O primeiro rascunho é apenas você contando a história para si mesmo.

—Terry Pratchett

A grande sacada da primeira versão é entender que ela é apenas isso: a primeira. O rascunho, a tentativa, o tiroteio para todos os cantos. O objetivo de quando sentamos e escrevemos a primeira versão é simplesmente tirar tudo da cabeça e passar para a página. Não há regras, não há estilo, não há gramática, apenas um desespero de teclas batendo sem se importar com mais nada. A intenção é ter em mãos a pior versão possível do seu livro.

Na primeira versão não há responsabilidades, além do compromisso de escrever. Se esse rascunho não for ruim, mal escrito, estranho, de embrulhar o estômago e retorcer a boca de tão mal feito, alguma coisa está errada. Talvez eu exagere um pouco.

Concentre-se em colocar as palavras na página sem pretensões, sem expectativas, sem julgamentos. Ninguém se senta para escrever e dispara pérolas da literatura assim, de primeira, com dedos mágicos e mente divina. Todo escritor sofre, uns mais, outros menos. Mas pode ter certeza que quem sofre menos é porque conseguiu ficar todos os dias escrevendo péssimos textos, sabendo que não há como evitar esse processo, e então tendo a paciência de revisá-los.

Toda primeira versão é perfeita, porque o único objetivo da primeira versão é existir.

—Jane Smiley

Escreva mal, escreva de qualquer jeito. Divirta-se com seus erros, com os absurdos produzidos. A primeira versão é só pra você — ninguém mais vai lê-la. Esse é apenas o jeito de criar um trabalho concreto, real, o jeito de dar vida a um projeto para, então, aperfeiçoá-lo.

Esqueça o perfeccionismo. Abandone o editor interno e abrace a imperfeição do rascunho. Escreva como uma criança, selvagem e aleatória, livre e sem limites, orgulhosa de seus desenhos colados na porta da geladeira.

Escrever é uma maratona, não uma corrida de 100 metros. Comece a escrever mesmo sem se achar pronto, mesmo se achando amador, mesmo achando que não consegue, porque você consegue. Busque a quantidade, porque ela nos traz experiência. E somente a experiência pode trazer a qualidade.

Escreva o pior texto possível, porque esse é o objetivo. Precisamos começar em algum lugar. Esse lugar é no fundo do poço, junto com todos os outros escritores do mundo, inclusive os seus favoritos.

Duvide do seu cérebro e confie nos seus dedos. Eles te levarão até o final.

Apesar de óbvio, esse é só o meu ponto de vista e minha opinião sobre o assunto. Talvez você tenha um conceito completamente diferente e essa é a magia da escrita — não existem regras, cada um usa o que acha melhor.

Escrevo o primeiro rascunho lembrando que estou simplesmente enfiando areia em uma caixa para que depois eu possa construir castelos.

―Shannon Hale

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