Quantas vezes os seguintes pensamentos já passaram por você durante um projeto: essa ideia é idiota demais? Alguém vai gostar disso? Por que estou perdendo meu tempo aqui? Isso está bom o suficiente? O que vão pensar de mim?
Se você se julga constantemente durante o processo criativo, é hora de desligar o perfeccionista que habita em seu cérebro.
Essa é uma verdade dura de encarar: se quiser terminar seus projetos, escrever todas as histórias que tem vontade e dividi-las com o mundo, você precisa calar a voz interna que exige perfeição.
Mas essa voz interna não significa que estamos nos esforçando para ser o melhor que podemos? Pode ser. O problema é que ela constantemente nos impede de seguir em frente e apenas criar. Ficamos com medo de críticas e cultuamos uma falsa ilusão de excelência. Só continuamos quando temos certeza que a ideia é genial, e como isso raramente acontece, sempre odiamos o que começamos e nunca terminamos nada. E o paradoxo de odiar algo que amamos traz uma sensação horrível.
Não há trabalhos perfeitos. Precisamos abraçar nossas imperfeições e chegar até o fim. Somos nosso maior crítico, é difícil olharmos para nossas próprias criações e dizer: “Nossa, esse trabalhou ficou incrível! Não mudaria absolutamente nada nele”. Quanto mais criamos e mais olhamos nossos trabalhos antigos, mais pensamos no quanto éramos ruins. E isso é ótimo, porque é a jornada do aperfeiçoamento.
Quanto mais escrevemos, mais melhoramos. Quanto mais somos ruins, mais aprendemos. Divirta-se e aproveite cada momento dessa jornada. Os erros são lições.
Ignore o perfeccionista interno. Não deixe-o te convencer de que está perdendo tempo, de que apenas conteúdo perfeito merece ser criado. Ele está errado. Você tem toda a permissão do mundo para escrever material ruim. Eu sei que soa repetitivo, mas a qualidade vem da quantidade.
É muito mais fácil encolher-se por medo da imperfeição e não criar nada do que aceitar suas falhas e espalhá-las pelo mundo. É muito mais fácil não fazer uma escolha do que encarar as consequências de uma. Não escolher é uma escolha, e a omissão tem suas consequências.
Humilde arrogância
Parafraseando o escritor Lawrence Block, escrever ficção requer arrogância suavizada com humildade.
É uma atividade extremamente arrogante porque sentamos e colocamos na página uma letra após a outra, que invadem a cabeça das pessoas e as fazem pensar sobre o que escrevemos. Exigimos dos leitores tempo e atenção para se dedicarem às nossas palavras. Como ousamos?
É, também, uma atividade humilde. Porque precisamos pintar grandes alvos nos nossos defeitos e expô-los para o mundo. A perfeição é inalcançável, então por que esperamos criar trabalhos sem falhas?
Essa voz interna nunca irá embora. Sempre haverá uma batalha pelo controle do seu trabalho. Ou você perde e não escreve nada, ou você mata o perfeccionista e cria mais um pouco. Pode ser ruim, pode ser genial. Não importa. Novamente, o importante sobre a escrita não é o momento, mas a jornada. Parece ruim ter que encarar algo assim todos os dias, mas ninguém está imune.
Lembra um pouco o mito de Sísifo, aquele cara no inferno que todo dia precisa empurrar uma rocha até o topo de uma montanha e, quando está quase chegando, ela rola de volta até o início. Todos temos uma rocha para empurrar. Essa é a do escritor.
Permita-se escrever mal. Empurre a a rocha até o topo todos os dias. Tenha a arrogância de chegar até o fim e dividir seu trabalho com outros. Tenha a humildade de aceitar que nada será perfeito.