Notas: Como Desenvolver Tensão na Sua História

O livro How to Develop Story Tension: 13 techniques plus the five minute magic trick guaranteed to keep your readers turning pages, de Amy Deardon, não tem enrolação nenhuma — a autora explica os elementos da narrativa e mostra o necessário para causar tensão.

O conteúdo é básico e pode ser encontrado em livros maiores sobre estrutura, mas esse pequeno volume é ótimo para quem quer algo específico sobre o assunto.

Deardon começa explicando que, não importa se a história contém frases perfeitas e descrições de tirar o fôlego com metáforas profundas, se não houver tensão, é provável que o leitor a abandone.

Para gerar tensão, uma narrativa precisa de três elementos fundamentais:

  1. História Externa
  2. Uma boa continuidade da História Externa
  3. O constante avanço da narrativa

História Interna e Externa

Como os próprios nomes dizem, elas se referem aos conflitos internos e externos do personagem. Para ilustrar a explicação, a autora mostra um exemplo: o objetivo de Michelle é superar sua infância abusiva (conflito interno). Ela decide montar um orfanato para crianças vítimas de maus-tratos, mas o advogado de um poderoso grupo da vizinhança faz de tudo para frustrá-la, pois a creche diminuiria o padrão de vida local (conflito externo). Entre os desafios externos de Michelle, ela também precisa conquistar suas lutas interiores.

[A História Interna e Externa] são necessárias para uma narrativa harmônica. Sem a História Interna, o enredo pula de evento para evento, sem a exploração do meio emocional do personagem. […] Por outro lado, sem uma História Externa, a narrativa é natimorta. Não existe conteúdo para chegar ao fim do manuscrito, ou não existe um objetivo para isso.

Componentes da História Externa

Deardon diz que a História Externa sempre possui três componentes: Objetivo, Riscos e Obstáculos.

O Objetivo é o que o protagonista deseja alcançar. São específicos, preferencialmente algo físico, e sua conquista pode ser respondida com sim ou não (“Nathan será capaz de derrotar os terroristas e salvar os reféns?”).

Os Riscos explicam por que a história é importante: o que está em jogo para o protagonista? Deve ser algo importante para ele, ainda que seja algo pequeno de uma maneira geral — o desejo do herói também faz o leitor se importar. Podem ser múltiplos: físico e emocional (“Nathan quer derrotar os terroristas para salvar a vida dos reféns e livrar seu país da ameaça. Ele também deseja provar para si mesmo que, apesar de velho, ainda é relevante”).

Os Obstáculos são a principal fonte de tensão da história. Sem eles, não há narrativa. Podem ser internos ou externos. Os internos são coisas como preocupação, medo e falta de conhecimento. Os externos são pessoas, terrenos, etc. É aqui onde a autora explica sua definição de tensão:

A definição mais simples pode ser que tensão é a incerteza de pelo menos um elemento da história. Os Obstáculos servem para colocar o resultado de cada ação em dúvida ao bloquear o caminho do protagonista até seus objetivos.

13 técnicas para adicionar tensão

As técnicas são recomendadas para uso quando a história estiver se arrastando, ou simplesmente para ampliar uma cena.

Garanta que cada evento na sua história ponha o herói em uma posição pior que a anterior. Tome cuidado para evitar a “Síndrome de Uma Coisa Depois da Outra”, onde vários eventos acontecem, mas não fazem diferença nenhuma para a história — a posição do herói permanece inalterada.

Deardon explica as técnicas em detalhes e com vários exemplos. Resumidas, elas são:

  1. Limite de tempo. Aumenta a ansiedade e diminui as chances de sucesso.
  2. Personagem-espelho. Personagem que reflete o que pode acontecer com o protagonista caso ele falhe. Mostra a ameaça real do antagonista.
  3. Ameaça pessoal. Direcionada ao protagonista ou alguém próximo a ele.
  4. Tire algo importante do protagonista. Ferramenta, conhecimento, pessoa — algo de necessidade crítica.
  5. Personagem com objetivo oposto ao herói. Melhor ainda se o personagem for um aliado.
  6. Razão positiva para não alcançar objetivo. Transforme a opção de desistir ou falhar sedutora.
  7. Feche portas. Se o protagonista escolhe uma opção, ele destrói outras boas alternativas de vez.
  8. Explore o desconhecido. Deixe questões abertas e esconda informações.
  9. Deixe a situação pior. Surpreenda o protagonista e deixe a situação pior do que ele acreditava.
  10. Surpresa atordoante. Algo que deixe o protagonista sem reação, aumentando o perigo da cena e risco de falha.
  11. Diálogo indireto ou agressivo. Deixe ameaças ou conflitos implícitos.
  12. Frases curtas. Diminua a prosa para aumentar o suspense.
  13. Mantenha as dificuldades. A resolução de um problema inicia outro pior.

Em seguida, a autora aborda os conceitos de cena e sequência para delinear a história e manter a tensão.

Cenas

A menor unidade da narrativa. Segundo Deardon, uma estimativa para a quantidade de cenas em uma história ficaria entre 50-100. Ela recomenda cenas pequenas, porque parecem acelerar a história e diminui as chances da narrativa sair pelas tangentes. Deardon também fala sobre o ponto de vista: mantenha-o somente em um personagem por cena.

Cada cena precisa de uma razão para ser incluída na sua história. A cena precisa fazer o livro avançar de alguma maneira — a sua história se movimenta por causa da cena.

A cena pode ser divida em três partes:

  • Objetivo: deve ser expressado claramente no início.
  • Conflito: maior parte da cena. São os obstáculos internos e externos que o protagonista encontra para completar seu objetivo.
  • Desastre: protagonista não alcança o objetivo ou alcança e inicia outro problema maior.

Sequências

É o que leva o leitor para dentro dos personagens e causa empatia, por mostrar como eles pensam e reagem aos eventos.

A sequência descreve a reação interna do personagem ao desastre da última cena. A sequência pode ser curta — apenas uma frase — ou ocupar uma seção inteira.

Compostas por:

  • Emoção: descreve a reação emocional do personagem ao desastre. Medo, raiva, tristeza, etc.
  • Pensamento: depois de lidar com as emoções, o personagem deve determinar suas opções.
  • Decisão: personagem decide o que fazer. Pode ser no começo de uma nova cena (Objetivo).
  • Ação: personagem dá o primeiro passo em direção ao seu objetivo, após ter feito a decisão.

Com esses elementos definidos, o plano de cinco minutos para gerar tensão é delinear cada cena e sequência com antecedência, prestando atenção em cada parte da estrutura delas.

Amy Deardon conclui sugerindo um plano de ação para delinear a história com cenas e sequências e mostra um exemplo de narrativa planejada dessa forma.

Essas foram apenas minhas anotações pessoais. How to Develop Story Tension é cheio de dicas valiosas, e contém vários exemplos e explicações mais detalhadas para cada parte.

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