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Resenha: NEVER DIE (Mortal Techniques #1) – Rob J. Hayes

Sem spoilers.

Never Die me conquistou logo na capa. A arte é maravilhosa e, como eu estava em uma vibe de samurais — havia acabado de jogar Nioh —, encontrei minha próxima leitura assim que bati os olhos nela. E o resto do livro não decepcionou.

 

Sinopse

Ein is on a mission from God. A God of Death.

Time is up for the Emperor of Ten Kings and it falls to a murdered eight year old boy to render the judgement of a God. Ein knows he can’t do it alone, but the empire is rife with heroes. The only problem; in order to serve, they must first die.

Ein has four legendary heroes in mind, names from story books read to him by his father. Now he must find them and kill them, so he can bring them back to fight the Reaper’s war.

O Tigre e o Dragão + Anime

O misterioso menino Ein procura heróis lendários para ajudá-lo na missão de matar o Imperador dos Dez Reis, incumbida a ele por um shinigami, um deus da morte. Mas antes que possa recrutá-los, Ein precisa matar esses heróis e revivê-los, usando o poder que lhe foi concedido pelo shinigami. Isso deixa os heróis “amarrados” a Ein em uma espécie de obrigação espiritual — caso se afastem do menino, os ferimentos dos ressuscitados reabrem e eles sentem a morte alcançá-los de novo, dessa vez de forma definitiva.

Master Akihiko had once said Honour can be lost a dozen times, and regained. Life can only be lost once, and never regained. He was wrong about the second part, apparently.

A premissa é bastante parecida com a de Limbo, e isso me fisgou já no começo. Juntar heróis lendários para cumprir uma tarefa maior? Beleza, tô dentro. Mas o livro se mostrou mais que isso.

Presentes na trama estão elementos como samurais e ninjas, demônios, armas com nomes, honra e o “caminho do guerreiro”, o qi sendo usado como forma de energia, golpes e poderes especiais, e por aí vai. É uma mistura de O Tigre e o Dragão com vários animes/mangás e jogos como Samurai Warriors.

O livro já começa com ação e apresenta uma parte do cenário oriental inspirado no Japão feudal. O grupo de bandidos de Punho Flamejante invade a cidade de Kaishi e enfrenta três mercenários pagos para defendê-la: Itami Cho, A Lâmina Sussurrante, Oong, o Touro Vermelho, e Qing, a Cem Cortes. Essa primeira cena já indica o foco nas lutas que a história carrega por 274 páginas.

O autor não perde tempo se aprofundando demais na construção do mundo, mas também não deixa o leitor perdido. Ao longo do livro, ele dá várias pinceladas sobre a mitologia, geografia, história, política e o modo de vida do império ficcional de Hosa, criando uma imagem interessante e bem construída do lugar sem ser cansativa.

With death as their guide, their companion and goal.

They cross all Hosa, spirit, flesh, and soul.

Hounded by demons, from the pages of lore.

What starts with a whisper, must end with a roar.

O enredo de Never Die, entretanto, se mostra repetitivo enquanto avança, um problema também presente em Limbo. É tudo bem linear: Ein recruta um herói, uma cena de batalha se segue e o grupo avança para procurar o próximo escolhido. Muitas dessas batalhas são contra yokais, espíritos vingativos do folclore japonês que morreram em dor e sofrimento, e agora buscam roubar a vida que lhes foi negada.

A repetição é amenizada pelo ritmo rápido da narrativa, pela prosa enxuta, sem descrições em excesso, pelas pitadas de lendas criadas pelo autor e pelo suspense nas questões levantadas durante a jornada — quem é Ein e qual o limite de seus poderes? Por que ele quer matar o imperador? Por que ninguém parece reconhecer os heróis escolhidos, se são figuras famosas pelo mundo? O que aconteceu no passado de Itami Cho, a Lâmina Sussurrante, primeira escolhida, e dos outros guerreiros?

Os escolhidos de Ein

A dinâmica do grupo é cheia de conflito, já que um personagem não suporta o outro, o que cria várias situações divertidas. O relacionamento entre os heróis foi gostoso de acompanhar, e as personalidades deles são bem distintas, embora nem todos tenham um desenvolvimento apropriado. Todos têm suas falhas que precisam ser superadas, mas os arcos que eu mais gostei foram os de Itami Cho e de Zhihao Cheng, o Vento Esmeralda.

The Emerald Wind laughed bitterly. ‘The thing about this world, the way to survive, is you either become the worst monster you can be, or you find someone else willing to be an even worse monster, and make yourself useful. I learned early in life there are some things I’m just not willing to do, to others and to myself. So I found someone who was.’

Logo no começo descobrimos que Itami Cho é uma shintei, espécie de monja guerreira, e já quebrou todos os juramentos que fez na vida, exceto um. Ela carrega duas espadas: uma chamada Paz e outra que jamais deve deixar a bainha, para poupar o mundo do mal que ela carrega. O juramento que fez de jamais sacar a arma amaldiçoada é o único que Cho ainda mantém.

As revelações do passado dela e de suas promessas, de seu relacionamento com a Lâmina Secular, foram um dos pontos altos da história pra mim.

Zhihao Cheng, o Vento Esmeralda, é um dos bandidos de Punho Flamejante, e não entende porque foi ressuscitado para agir como herói.

It takes a lifetime of evil to be a villain, and only one moment of good to be a hero.

O desenvolvimento dele é emocionante e melancólico. Várias informações sobre os personagens e sobre o pano de fundo são reveladas durante a história, mas é depois da metade do livro que os plot twists surpreendem. Algumas das reviravoltas foram fáceis de prever — o autor poderia ter sido mais sutil —, enquanto outras acertaram em cheio. As sequências de ação do final foram muito bem planejadas e escritas, levando a história a uma conclusão inesperada e intensa.

O que gostei

+ Uso da mitologia japonesa, criando um cenário com características pouco usadas na fantasia.

+ Lendas do mundo criativas que dão mais profundidade à história, como o treinamento de Murai, a Lâmina Secular, e o forjamento das espadas de Itami Cho.

+ Ritmo acelerado e narrativa enxuta. O autor consegue mostrar as várias cenas de ação sem deixar o leitor perdido.

+ O suspense mantido desde o começo até o o final inesperado.

+ O sistema de magia não é explicado, e pra mim isso funcionou. Tudo que sabemos é que os golpes dos personagens usam qi. Isso aprofunda ainda mais a estilização e o exagero dos combates.

O que não gostei tanto

– Enredo repetitivo.

– Algumas revelações ficaram óbvias.

– Nem todos os personagens tem um aprofundamento adequado.

– O final deixou um gosto meio deprimente. Embora tenha o mérito da surpresa, não o achei tão satisfatório.

 

Never Die é quase um anime/videogame em forma de livro, recheado de mitologia japonesa e lendas próprias cativantes. Apesar da ação do começo ao fim, a história também fala sobre um grupo de heróis buscando redenção, honra e glória. Cada personagem tem sua motivação, mas todos buscam uma segunda chance de alcançar na morte o que não conseguiram em vida.

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