10 conselhos de Ursula K. Le Guin para escritores

A ficção científica não é meu gênero favorito,  mas o trabalhado de Ursula K. Le Guin sempre me impressionou.

Procurei mais sobre a autora, que eu já conhecia bastante de fama, e me deparei com vários conselhos dela sobre escrita.

Le Guin foi uma das primeiras escritoras a mostrar para o mundo que a ficção científica não é algo exclusivo de homens. Além de sci-fi e fantasia, já escreveu poesia, não-ficção e ficção “literária”. Mesmo que você não concorde com todos os conselhos, acho que vale a pena ouvir o que ela tem a dizer sobre a profissão/atividade.

A maioria dessas citações foi tirada de uma entrevista de Le Guin para o The Paris Review, o maior site de entrevistas com autores, além de outros textos.

1. “Mostre, não conte” (show, don’t tell) é para iniciantes

Graças ao jargão “mostre, não conte”, alguns escritores nos meus workshops pensam que a exposição é algo perverso. Eles têm medo de descrever o mundo que criaram. Esse pavor de escrever uma frase que não está repleta de ação visceral leva os autores a dependerem muito de diálogos, a restringir a voz para a terceira pessoa limitada e o tempo, ao presente.

2. “Escreva sobre o que sabe” também

Diziam “escreva sobre o que sabe” regularmente para mim, quando comecei. Acho uma ótima regra e sempre a obedeci. Eu escrevo sobre países imaginários, sociedades alienígenas em outros planetas, dragões, magos, o Napa Valley em 22002. Eu sei sobre essas coisas. Eu as conheço melhor do que qualquer pessoa seria capaz, então é meu dever representá-las.

3. Esqueça o rótulo e concentre-se na atividade

Quando perguntam “você sempre quis ser escritora?”, preciso responder que não! Eu sempre fui escritora. Não queria tornar-me escritora, levar uma vida glamurosa e ir para Nova Iorque. Tudo que queria era fazer meu trabalho, escrever, e fazê-lo muito bem.

4. Sempre mire no ponto mais alto

Quando perguntaram com quais autores ela compara seu trabalho, Le Guin respondeu:

Charles Dickens. Jane Austen. E, quando finalmente aprendi a lê-la, Virginia Woolf. Mire no ponto mais alto, sempre. Você sabe que não vai chegar lá, mas onde está a graça quando você não tenta alcançar o topo?

5. Escreva “quem” você é

Adivinha só? Você é uma mulher. Você pode escrever como uma mulher. Percebi que mulheres não precisam escrever sobre o que homens escrevem, ou escrever sobre o que homens pensam que querem ler. Percebi que as mulheres têm um conjunto de experiências que os homens não têm — e vale a pena escrever e ler sobre elas.

6. Aprenda com os grandes

Foram Borges e Calvino que me fizeram pensar “Olha só o que eles estão fazendo! Será que eu também consigo?”

7. Escrever é aprender a enxergar

Um ótimo livro me conta algo novo, me conta sobre coisas que eu não sabia, ou não sabia que sabia, mas consigo reconhecê-las. “Agora eu enxergo como isso funciona”. A ficção — e a poesia e o drama — limpam as portas da percepção.

8. Como começar uma história? Com uma voz

Comece com uma voz. Uma voz no ouvido. A primeira página que eu já escrevi, e de onde o livro cresceu, foi simplesmente a Lavinia falando com as pessoas — inclusive comigo, aparentemente.

9. Foque no ritmo da história

Eu quero que a história tenha um ritmo de avanço constante. Esse é o objetivo de contar uma história. Você está numa jornada, indo daqui pra lá. Precisa ter movimento. Mesmo se o ritmo for bastante complicado e sutil, é ele que carrega o leitor.

10. Não perca tempo.

Conforme envelhecemos, uma das coisas que precisamos é de menos. Meu modelo para isso é Beethoven.  Ele se movimenta de forma estranha e às vezes até inesperada, de um lugar ao outro em sua música, nos últimos quartetos. Ele sabe aonde está indo e não desperdiça tempo para chegar lá. A idade nos torna conscientes disso. Você não pode perder tempo.


Você concorda com as dicas? Discorda de algum conselho em particular? Já encontrou algo da autora que vale a pena ser compartilhado? Fale aí nos comentários, será um prazer conversar sobre outros pontos de vista.

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